quarta-feira, 3 de maio de 2017

Belchior: A Coragem de Escolher o Fim

Belchior, uma das vozes marcantes dos anos 70 e 80 da MPB Musica Popular Brasileira, morreu aos 70 anos no fim de semana passada, Seu nome era António Carlos Belchior, nascera no Ceará, fez carreira nas grandes capitais, no entanto retirou-se da vida pública há dez anos, não por depressão, doença, mas porque quis viver cercado de livros, numa vida de clausura e meditação. 
Iniciou estudos em Psicologia e Filosofia, mas é na poesia e na arte que encontra a sua alma mater, dedica-se de corpo e alma a transmitir ideias pela música. A coragem deste homem simples e sensível, de se retirar do mundo e da azáfama do dia a dia, não é para todos. É necessária uma grande dose de sensibilidade mas também de coragem.
Não escolheu a maneira que morreu, mas escolheu o modo de viver o fim da sua vida, inclusive escolheu uma cidade pequena, longe de tudo. Pelo que resta-me perguntar, não será a solidão um encontro conosco próprios? Não será essa a maneira mais doce de abraçar a vida, saber a sua finitude e não temer pensar?

Sempre pensei nisto, no que acabou por ser noticia com Belchior, já terá passado pela cabeça de tanta gente, como vou viver os dias que me restam?


Autor: Filipe de Freitas Leal

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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

sexta-feira, 3 de março de 2017

A Política Internacional e a Globalização - Uma Introdução Sintética

A Nova Ordem Mundial, que tanto se fala, traduz-se num crescente aumento da influência do comercio externo e da economia sobre a politica. É o virar de uma página da história política, no que concerne ao mercantilismo e ao capitalismo de Estado ou mesmo ao regime comunista.
Quando surgiu a Globalização? A esta pergunta, poderíamos ir buscar uma série de antecedentes históricos, que nos levariam sem duvida aos descobrimentos marítimos portugueses dos séculos XIV e XV, não obstante, foram os portugueses os primeiros navegadores a chegar ao Japão, desse contacto surgem as primeiras armas de fogo no extremo-oriente, Nagazaki havia sido construída por missionários jesuítas portugueses, e até mesmo a palavra “arigatô” vem do termo português “obrigado”. Sem falar na troca global de plantas que foram tiradas de um continente e plantadas noutro, tal como a mandioca, o principal alimento da dieta africana, foi levado pelos portugueses do Brasil para África, bem como o milho e a batata que não existiam na dieta europeia.
Mais dramática e igualmente influente, foi a migração forçada de milhares de africanos comprados e levados como escravos pelos ingleses, franceses, espanhóis e portugueses para a agricultura em todo o continente americano ou o denominado Novo Mundo, facto que é de suma importância, devido a isso, hoje observamos que a população do Haiti é maioritariamente afrodescendente, em detrimento das populações indígenas que foram assimiladas e miscigenadas tanto com os escravos como com os colonos.
No que concerne à globalização, temos que ter em conta a crescente influencia desse processo no aspeto cultural, cada vez mais os povos se aproximam culturalmente uns dos outros, e isso origina-se com o surgimento de sociedades multiculturais, que obviamente surgiram no novo mundo, muito embora com algumas bolsas de resistência com comportamentos de racismo e xenofobia.
Um dos países onde melhor se definiu o multiculturalismo, foi sem dúvida o Brasil, país no qual não houve o racismo de forma clara ou institucional, como ocorreu por exemplo nos Estados Unidos da América, no Brasil as questões de divisão são maioritariamente de classe e não tanto de etnia.
Nos anos 30 do século XX no Brasil, a pergunta de ordem era saber quem eram de facto os verdadeiros brasileiros. Seriam os índios que eram os habitantes autóctones, os portugueses que criaram os Brasil e deixaram as bases das suas estruturas sociais, culturais, religiosas e políticas, ou seria ainda os afrodescendentes a quem a economia fundamentalmente agrícola e pecuarista do Brasil devia muito pelo seu trabalho braçal? Foi o sociólogo brasileiro Gilberto Freyre quem com o seu livro, “Casa Grande e Senzala”, vem mostrar que todos os três elementos humanos fundadores do que se chama de brasilidade, são igualmente importantes e autênticos brasileiros, esta reposta agradou sobremaneira ao Presidente Getúlio Vargas e ao renascido nacionalismo brasileiro. 
Todavia, a globalização não se centra nos aspetos culturais, esses são mera consequência dos objetivos fundamentais, que são económicos, fundam-se no comércio externo, na internacionalização das empresas multinacionais e na busca do lucro.
Outros autores como AlvinToffler, vêm a origem da globalização no desenvolvimento da sociedade de serviços ultrapassando a industrial nos anos 50, a nova sociedade da informação e o desenvolvimento tecnológico terão facilitado a comunicação e encurtado as distâncias, isso permite o desenvolvimento consecutivo do comercio externo.
A partir daqui surge o desenvolvimento de grandes conglomerados dos Blocos económicos, inicialmente com a EFTA e a CECA, esta ultima viria a dar lugar à CEE atual União Europeia, no bloco comunista criara-se o COMECOM, entretanto extinto, mais recentemente surgiram a ASEAN, o Mercosul e a NAFTA, mas o mais importante é a criação da Organização Mundial do Comércio, a partir do que foram as conversações do Uruguai Round, da antigo GATT. Acordo Geral sobre Tarifas e Impostos.
Para ilustrar o que é e como funciona a globalização, temos de citar a intervenção do FMI Fundo Monetário Internacional ao determinar a internacionalização do Dólar estadunidense como moeda franca a nível internacional no pós-guerra, sem falar da moeda única na Europa, o Euro que se tornou mais forte do que o dólar apesar da instabilidade económica na Zona Euro.
Alguns dos ícones da globalização são sem sombra de dúvida as parabólicas de TV Satélite, os cabos submarinos de transmissão de Internet e as agências de viagens repletas de descontos em passagens aéreas, o mundo hoje está mais próximo por meios de comunicação e pela rapidez na deslocação de um continente a outro como nunca antes se imaginara. Mas esta é a parte visível da globalização, parece que à partida fora feito de propósito para deixar feliz o consumidor final, mas não, essa é a ponta do Iceberg, a raiz de tudo isto, está no lucro, na vinculação ideológica do liberalismo vigente e nas grandes transações financeiras a nível global, de holdings gigantescas que fazem das Bolsas de Valores o principal ícone da globalização. Não obstante à medida que se desenvolve a globalização no plano financeiro e económico, também se desenvolve no plano político, todavia de forma inversa ao modo como a política até aos meados do século XX funcionava, para exemplificar, tivemos o Crash de 1929 e a sua solução através do New Deal, a política de então é que determinava as regras do jogo económico, todavia, atualmente são os mercados que determinam as politicas a tomar, os países passam a ser vistos como empresas. A eleição nos Estados Unidos, do magnata Donald Trump para suceder o democrata e progressistas Barack Obama, serve de exemplo para este dado, um homem que não vem da política como carreira, mas antes um empresário multimilionário, de tendência claramente conservadora e neoliberal.
Principais Características da “Aldeia Global”
Ø Internacionalização das empresas;
Ø Internacionalização do mercado de capitais;
Ø Organização de Grande Blocos Económicos;
ü Perda de parte da soberania dos países em favor dos Blocos Económicos.
Ø Criação da Moeda Única;
Ø Dólar como moeda franca internacional;
Ø Criação Organização Mundial do Comércio;
ü Consolidação do liberalismo político;
ü Redução dos direitos sociais
Ø Maior competitividade entre os continentes;
Ø Maior aproximação cultural e ideológica global;
·    Maior facilidade de deslocação;
·    Acesso à informação e comunicação;
·    Maior uniformização cultural;
A Globalização submete o papel do Estado (antes um regulador) aos interesses dos grandes conglomerados económicos e financeiros (antes meros agentes), fazendo com que os Estado perca parte da sua soberania, dando a impressão que as instituições democráticas são hoje em dia uma mera plataforma de implementação dos interesses financeiros por parte tanto dos três poderes.
Observa-se atualmente na globalização uma inegável presença do ideal neoliberal, claramente com o intuito de retirar ao poder político o seu papel regulador do mercado, para ser o mero regulamentador da agenda económica e financeira, retirando ao Estado a sua presença em setores como a banca, os transportes públicos, as comunicações, correios, saúde, educação, energia e saneamento básico.
Posto isto, observa-se ainda que as reformas liberais levadas a cabo, refletem uma clara interferência no mercado de trabalho, através de imposição de alterações à legislação laboral, fragilizando em larga medida a já frágil situação dos trabalhadores, tanto nos países desenvolvidos como nos que se encontram em desenvolvimento, bem como pela redução dos ordenados no mercado de trabalho e o fim dos apoios sociais.
A soma deste quadro no que concerne à globalização corrobora as graves consequências sociais que têm surgido, tais como o desemprego de longa duração, a emigração, o empobrecimento das faixas mais idosas da população e o consequente agravamento da insustentabilidade da segurança social, que choca com o apoio estatal à banca falida, através de dinheiro público saído do bolso dos contribuintes nos países da Zona Euro, como foi o caso de Portugal Irlanda, Grécia e Espanha, os denominados PIGS.

Autor: Filipe de Freitas Leal


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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Partiu o Meu Melhor Amigo - Meu Pai.

Faz hoje uma semana que partiu o meu melhor amigo, o meu Pai Manoel João Leal: partiu estando eu no Brasil, deixando-me a tristeza da sua ausência e a riqueza das suas memórias, dos momentos passados juntos. 
Ao meu pai deixo este tributo como gratidão por ter me ajudado a ser a pessoa que sou e, porque com ele, desde novo aprendi a gostar de estar rodeado de livros, tendo sido também o meu companheiro de longas conversas sobre variados temas como arte, literatura e a actualidades de politica internacional, nos últimos anos que convivi com ele em Sintra Portugal, foram tempos bons, tempos felizes.
Meu pai foi a pessoa que me ensinou o valor profundo da honestidade, do saber ser e saber estar, meu pai foi o meu confidente, a pessoa com quem mais tive o prazer de conversar, acima de tudo, é dele que obtive o gosto pela informação sobre política, tanto nacional como internacional, sobre a filosofia, a arte e sobretudo da pintura, entre outros temas, acompanhados de sorrisos, chá, café, bom vinho, bom queijo, numa amena conversa, sempre sereno, foi sempre uma excelente companhia a dele. Agora, resta-me a memória do seu sorriso sereno e eterno.

Autor: Filipe de Freitas Leal

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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Bauman - Morreu o Pensador de Dois Séculos

Zygmunt Bauman, sociólogo e pensador polaco radicado no Reino Unido, faleceu em Londres onde residia há vários anos após ter-se exilado fugido das perseguições antissemitas do governo comunista de Varsóvia, teria antes de ir para a Inglaterra, vivido em Israel, mas foi na capital britânica que encontrou o espaço necessário para poder desenvolver o seu trabalho. Bauman nasceu em  1925 no seio de uma família judaica, foi professor catedrático em Varsóvia na cadeira de sociologia, é considerado um dos mais importantes pensadores e sociólogos que fez a ponte entre o fim do século XX e inicio do Século XXI, tendo deixado escrito mais de 60 livros dos quais se destacam a Modernidade Liquida e Amor Liquido.
Eu pessoalmente tomei conhecimento deste pensador e sociólogo já tarde, há um ano escrevi um artigo sobre ele e os seus mais importantes e interessantes livros, Bauman marca não pela maneira como escreve mas pela maneira que soube fazer passar a sua mensagem, quem lê a obra de Bauman, não pode e nem consegue permanecer o mesmo. O mundo ficou mais pobre, mas a sua passagem deixa um legado rico.


Autor: Filipe de Freitas Leal

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Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Mário Soares - Morreu o Guerreiro da Democracia

Mário Soares, cujo nome completo é  Mário Alberto Nobre Lopes Soares, filho de um ministro da I República, nasceu em Lisboa a 7 de dezembro de 1924 e morreu na tarde do ultimo sábado, 7 de janeiro de 2017, tendo  deixado um legado inegável na história de Portugal, sendo considerado o Pai da Democracia portuguesa, foi aliás dos lideres políticos da democracia após a Revolução dos Cravos o que mais se destacou, sendo o guerreiro que lutara pela democracia e fê-lo tanto contra o regime salazarista que lhe valeu o desterro, várias vezes a prisão (onde casou com Maria Barroso) e por fim o Exílio em Paris, tendo sido na Alemanha em 1973 fundara a ASP Ação Socialista Portuguesa e tornara-se a alternativa democrática ao regime fascista, tanto quanto após o 25 de Abril, quando lutou para  consolidar a democracia e afastar definitivamente o fantasma de um regime comunista. António José Saraiva afirmou num artigo de opinião no semanário Sol, que dos lideres dos partidos saídos do 25 de Abril, Mário Soares foi impar, Alvaro Cunhal lutou contra a ditadura, mas não era um democrata, Freitas do Amaral e Francisco Sá Carneiro apenas encarnaram a ala moderada do partido único  na Primavera Marcelista, não chegaram a lutar contra o regime e não se bateram pela democracia como Soares o fez.
Soares foi como já afirmaram várias vezes, tal como voltou a frisar José António Saraiva, diretor do semanário Sol, "era mais um Tribuno do que de um homem do poder", foi um homem de visão, a sua obra política que aliás é de extrema importância para a história recente de Portugal, resume-se a três grandes factos políticos:
1.°)  A criação em 1973 de uma oposição democrática que foi alternativa ao PCP, e que devido a isso teve o apoio dos principais lideres políticos da Europa;
2.°) A luta pela consolidação da democracia;
3.º) O projeto pelo desenvolvimento pela integração de Portugal na CEE e consequentemente do desenvolvimento econômico e social que daí advém.
Foi tal como disse ao assumir em 1986, o presidente de todos os portugueses, mas como é impossível agradar-se a todos, pelo que apesar de alguns que podem gostar pouco ou não gostar em absoluto de Mário Soares, sobretudo os que o acusam da culpa do modo como a descolonização em África foi feita, todavia devem reconhecer o inegável contributo por ter transformado um país atrasado numa democracia exemplar, democrática, livre, segura e tolerante.

Muitos jovens não sabem ao certo quem foi Mário Soares, no entanto a História não deixará de reverenciar a sua importância nos momentos históricos cruciais, tanto os vividos durante o regime fascista, como os da época complicada que foi o PREC - Processo Revolucionário em Curso, e por fim o Portugal moderno que é fruto da contribuição de Soares pela consolidação do regime democrático.
Os portugueses despedem-se homenageando Soares com aplausos misturados com um silêncio sentido






Autor: Filipe de Freitas Leal


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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

 
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