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domingo, 17 de dezembro de 2017

XIV - Quais as Principais Correntes Ideológicas?

As principais correntes ideológicas da atualidade não centram a sua atividade apenas na luta pela conquista do poder, mas procuram, primeiramente ou em simultâneo, influenciar na transformação social na defesa dos seus interesses.
No entanto, essa influência varia de acordo com o matiz ideológico presente na base de apoio, base essa que se encontra no interior do aparelho de cada partido, movimento ou sindicato, e independe da ideologia política, ou seja, deriva do pensamento filosófico-político ou de uma qualquer linha de pensamento político, económico, religioso, que esteja na génese das suas intenções políticas O modelo da práxis política na persecução dos seus objetivos é fundamentalmente o mesmo.
Posto isto, resta-nos concluir que há aqui uma vez mais a presença da dicotomia da Esquerda versus Direita, e essa fronteira é por vezes de difícil perceção, porque nada é estanque, já que se trata de um fenómeno que, além de ser político, é fundamentalmente social.
A grande maioria dos fundadores dos grandes movimentos eram líderes carismáticos, pessoas cultas com formação universitária, na sua maioria e em geral vindos da classe média, tinham um forte sentido de Estado e sentiam-se imbuídos de uma missão. Foi assim com Karl Marx, nascido numa família abastada, viveu apenas para os seus ideais e dedicando-se aos seus estudos sociológicos e ao sindicalismo socialista; foi assim também com Che Guevara, nascido na Argentina, formado em medicina, decidiu lutar pelos povos oprimidos da América, depois de ter vencido em Cuba, abandonou tudo para lutar e morrer assassinado na Bolívia. Mahatma Gandhi nasceu na Índia, estudou Direito em Londres e trabalhou como advogado na África do Sul, mas decidiu voltar à Índia e viver na máxima simplicidade para lutar pela independência da India, utilizando o método da Não-violência Ativa”;Luther King, Pastor evangélico, humanista e pacifista, defensor da NVA, foi um ativista negro na luta contra a discriminação racial nos EUA, morreu assassinado; outros tomaram caminhos radicais, quer pela loucura, quer pelo fanatismo, como foi o caso de Mussolini, Hitler, Sadam ou Khadafi, tendo cada um destes três Estadistas feito história pelo desfecho trágico dos seus governos e das suas vidas.
As principais correntes da atualidade surgiram na sua maioria no fim do século XIX e início do século XX. Somente as correntes mais periféricas no plano de influência política é que surgiram no século XX, como o ideal ecologista, o nazi-fascismo ou os fundamentalismos religiosos.
Das principais correntes ideológicas da atualidade, a maioria surgiu na Europa e nos Estados Unidos, sobretudo por serem o berço das principais correntes filosóficas, económicas e sociológicas, onde se viveu momentos históricos que influenciaram profundamente o surgimento de correntes ideológicas, como a Revolução Industrial em Inglaterra e o consequente surgimento do movimento socialista.
Há, todavia, diferenças profundas que convém salientar, como a diferença do comunismo na Rússia e na China, o primeiro foi baseado no operariado e na indústria, o segundo no campesinato liderado por Mao Tsé-Tung, acabando por fazer uma revolução dentro da revolução, denominada de Revolução Cultural.
O surgimento de uma corrente política é algo que emana da natureza da dinâmica social, conjugada com fenómenos económicos e de circunstâncias históricas que fazem que determinados grupos tenham de defender suas ideias por se sentirem em desvantagem social com os grupos que dominam o sistema socio-político-económico. Foi assim que determinadas circunstâncias permitiram e até empurraram a Alemanha do início do século XX para o regime nazi-fascista; isso nunca teria acontecido se não fossem tão humilhantes as condições impostas pelo Tratado de Versailles aos alemães vencidos no fim da I Guerra Mundial.
O mesmo pode-se dizer com relação ao surgimento da ideologia ambientalista, que é fruto da degradação ambiental por parte da produção industrial massiva e poluente, em prol de um capitalismo feroz e de uma sociedade excessivamente consumista, cujos danos são irreversíveis.
As razões que motivam o surgimento de uma corrente política não se limitam na conquista do poder e da sua manutenção, mas partem de pressupostos ideológicos de grupos específicos, quer seja pelas suas ideias, quer seja pela defesa das suas crenças, da origem étnica, classe social, ou meros interesses corporativos e económicos, ou ainda, de outra ordem, pretendem influenciar o poder para garantir mudanças, obter visibilidade e tornar-se um forte grupo de pressão para obter concessões e promover a mudança social. Foi o que aconteceu com os principais partidos sociais-democratas e socialistas na oposição, ou mesmo dos ecologistas e defensores dos direitos humanos, entre outros grupos, tais como os separatistas, que aqui e ali vão conseguindo maior autonomia para o seu país, seja na Catalunha, seja na Escócia, no Curdistão, entre outros.
À semelhança de capítulos anteriores, onde foram abordados os partidos políticos da esquerda à direita, agora faz-se imperativo fazê-lo aqui do mesmo modo, com o intuito de mostrar cada corrente ideológica pela sua posição e espectro político, pelo que abordaremos cada uma, dando uma pequena explicação das ideologias abaixo sublinhadas:
As principais correntes da atualidade.
Berlinguer precursor do Neocomunismo
Neocomunismo – Após a invasão soviética à antiga Checoslováquia, uma grande parte dos comunistas da Europa ocidental criticaram o stalinismo, mais tarde, após a invasão soviética ao Afeganistão fez-se uma cisão e criaram um novo comunismo, que se denominou de Eurocomunismo, pelo carisma do então líder comunista italiano do PCI, Enrico Berlinguer, que em 1980 rompeu com o Regime soviético e o stalinismo, foi seguido por outros líderes comunistas como Georges Marchais do PCF de França. Poucos partidos comunistas no ocidente mantêm-se fiéis à ortodoxia estalinista; um deles foi Álvaro Cunhal do PCP - Partido Comunista Português.
Posteriormente ao Eurocomunismo, e após a queda do Muro de Berlim, surgiu uma revisão em quase todos os partidos comunistas, a maior parte deles inclusive mudara de nome como o PCB do Brasil e o PCI de Itália, que passam respetivamente a ser o PPS - Partido Popular Socialista, liderado na altura por Roberto Freire, e o PDS - Partido Democrático dela Sinistra, o que gerou uma onda pela refundação comunista, mas que não surtiu efeito. O reformismo seguia em frente conquistando adeptos, e aqueles que, no entanto, não mudaram o nome, passaram claramente a atualizar a sua forma de atuação política e a adaptar o seu conteúdo ideológico e programático para uma nova realidade.
Os partidos comunistas que se mantiveram no poder como na China, Cuba e Vietname adaptaram-se à economia de mercado, aliás, a transformação da sociedade comunista chinesa, numa economia de mercado, deu-se sob a orientação de Deng Xiao Ping, que foi o grande timoneiro depois da morte de Mao Tsé-Tung em 1976; levou a China a reformas estruturais até envergar bem alto o sloganUm País, Um regime, Dois sistemas”; em 2016 veio assumir que a transição havia acabado e adota a economia de mercado, com a qual quer concorrer com o resto do mundo em condições de plena igualdade. Só a Coreia do Norte se mantém inalterada no seu conteúdo ideológico, contudo trata-se de um comunismo sui generis.
Neomarxismo – O marxismo, além de uma corrente política, é fruto de uma análise sociológica, que estuda a estrutura e a evolução das sociedades baseada na divisão das classes. O Neomarxismo é uma nova forma de ver o mesmo prisma sociológico e também político de forma atualizada à nova realidade global. Os políticos neomarxistas apoiam-se na análise da estrutura social atual que perpetua a divisão de classes; em outras palavras, trata-se da adaptação do marxismo para os novos tempos, ressurgindo como uma reação ao ruir dos ideais e pressupostos do socialismo marxista, sobretudo a ideia negativa que a experiência soviética revelou.
Feminismo – O Feminismo é uma corrente de luta pela emancipação das mulheres, que teve um grande impacto no século XIX, sobretudo no Reino Unido e nos Estados Unidos com o movimento das sufragistas, que lutavam pelo direito de voto, então vedado às mulheres. Paulatinamente, conquista após conquista, a luta pela igualdade de géneros faz-se necessária, já que atualmente a condição feminina varia de continente para continente. No ocidente há ainda muito da cultura vinda do patriarcado que precisa ser derrubada, nomeadamente a diferença salarial entre homens e mulheres para uma mesma atividade profissional, e a baixa percentagem das mulheres no topo da direção das empresas, sem falar na pequena percentagem das mulheres nos Parlamentos.
O feminismo assemelha-se a uma causa, mais que uma corrente política, até porque está presente no seio das diversas correntes. Faz-se necessário que assim seja, para que a luta pelos direitos não fique presa a uma corrente política, isso seria relegar o feminismo à luta pelo poder, e não é esse o objetivo, mas antes abraçar uma causa e combater a discriminação e a violência de género, de forma transversal a toda a sociedade.
Humanismo – O Novo Humanismo é um movimento surgido em 1967 na Argentina, fundado por Mário Rodriguez Cobos, o Silo, ou El negro, como o chamavam os seus correligionários. No cerne da ideologia humanista está a luta pela centralidade da pessoa humana em todas as áreas da atividade social, política e económica; isto quer dizer que, ao contrário do socialismo, que preconiza a primazia da sociedade sobre o individuo, ou do capitalismo, que preconiza a primazia do capital e dos bens de produção, o humanismo dá a primazia à pessoa humana. É, portanto, para a Pessoa Humana que se fazem os instrumentos sociais, políticos e económicos ao dispor das necessidades sentidas por todos. O contrário deste princípio reflete uma forma de escravização, fazendo com que as pessoas é que existam para dar sentido ao Capital, ou então que existem em função da sociedade. Em outras palavras, uma inversão de valores que não permite a dignidade humana em toda a sua plenitude.
O Movimento Humanista divide-se em várias organizações, entre elas o PH - Partido Humanista, que está presente em vários países do mundo, envergando a bandeira cor de laranja e tendo como logotipo a fita de Mobios ou o símbolo do infinito.
Socialismo Democrático – Corrente político-ideológica comummente designada por Social-democracia, que corresponde ao socialismo de cariz democrático, revisionista e republicano (à exceção dos trabalhistas britânicos, que aceitam a monarquia). O socialismo democrático pretende ascender ao poder pela via democrática, ao contrário dos comunistas. Os partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas de vários países estão presentes na IS - Internacional Socialista, inclui ainda outros partidos com diferentes designações, defendendo o mesmo ideal. Portugal é representado pelo PS, o Brasil pelo PDT e Angola pelo MPLA.
Ao contrário dos comunistas, que defendiam a estatização da economia, e dos liberais que defendem a total privatização, os socialistas, sociais-democratas e trabalhistas defendem que determinados serviços devem permanecer na esfera estatal, seja com exclusividade, tais como a distribuição de água, eletricidade, gás, correios, entre outros, seja sem exclusividade, como os transportes públicos.
Ambientalismo – Corrente de esquerda denominada de Esquerda Alternativa, movimento Verde ou Nova Esquerda, que está presente em variadíssimos países, envolvendo um extenso leque heterogéneo de organizações ou iniciativas autónomas da sociedade civil. Abrangem diversos níveis de amplitude, tais como as que no campo político disputam eleições e se designam de Partidos Verdes. Tratam-se de um movimento ecológico de cariz anticapitalista, que preconiza uma filosofia de vida e um ideal político e económico baseados na sustentabilidade e no combate ao consumismo feroz. Segundo os ecologistas, esse comportamento está destinado a levar o planeta à sua autodestruição, pelo que intervêm propondo novos modelos de desenvolvimento sustentável.
Os movimentos ecológicos surgiram praticamente depois da II Guerra Mundial, mas historicamente, as teorias de Darwin contribuíram enormemente para que a humanidade percebesse que a evolução das espécies é resultado de os seres se adaptarem ao meio, e que, se o meio ambiente está a ser destruído, resta-nos perguntar que tipo de Ser Humano estará apto para viver num ambiente catastrófico e altamente poluído, ou melhor, será que sobreviveria?
Uma das grandes preocupações é, promover a ideia de que só com o recurso às energias renováveis será possível retardar a hecatombe ambiental. Hoje em dia cada vez mais se vê o enorme investimento que os governos estão a fazer para a obtenção de energia solar, eólica, entre outras.
Temas como a extinção das espécies animais, o degelo das calotas polares, os enormes desastres ambientais, entre outros, que têm sido largamente difundidos, permitem aos cidadãos associar esses fenómenos com a ação humana na biosfera, de forma a tomar partido e a adotar uma nova cultura ecológica.

Neoliberalismo – Corrente de pensamento político, que baseado nos ideais liberais, pretende o total afastamento do Estado nos assuntos económicos, ou por outras palavras defende a ideia de que quanto menor for a interferência do Estado nos assuntos económicos de um País, tanto maior será o grau de desenvolvimento económico e social.
Esta ideologia político-económica, pretende a total descentralização dos serviços, desde correios, bancos, transportes públicos, companhias de distribuição de água, energia e gás, serviços hospitalares entre outros, que passam para as mãos do setor privado, ou segundo setor, aliviando a pesada carga orçamental do Estado.  O principal argumento é que, ao buscar lucro o empresário ofereceria ao cliente final melhores serviços públicos que o próprio Estado.
O ideal neoliberal foi largamente adotado pelos governos de Margaret Thatcher no Reino Unido e por Ronald Reagan nos Estados Unidos da América, baseado nas teorias economicistas neoliberais dos economistas Friedemann e Hayeck. Esse pensamento estendeu-se a outros países e hoje é a batuta da matriz político-económica e financeira da União Europeia.
Democracia-cristã e Conservadorismo – Quanto à Democracia Cristã, trata-se de uma corrente política presente fundamentalmente em países de grande tradição católica, tem um forte teor ideológico que mistura o conservadorismo por um lado e a promoção de maior justiça social por outro, reivindicando assim a equidistância entre a direita clássica e a esquerda. O termo teria surgido em França no fim do Século XVIII, mas a origem dos modernos partidos democratas-cristãos surgiu no fim do Século XIX, sob influência dos valores da Doutrina Social da Igreja e da Encíclica Papal, Rerum Novarum de Leão XIII. Posteriormente ressurge com força na Itália do pós-guerra, devido à crescente popularidade do comunismo na vida política italiana de então, somando-se o facto de a direita clássica ser conotada com o fascismo de Benito Mussolini.  Isso fez com que a corrente democrata-cristã se fortalecesse, sobressaindo-se Aldo Moro, como um dos grandes lideres democratas cristãos, que foi por várias vezes Primeiro-ministro. Em 1978 chocou o mundo, ao ser sequestrado e morto pelas Brigadas Vermelhas, grupo terrorista de cariz Marxista-Leninista que com esse ato exigia a libertação de presos políticos. Todavia aqui há uma lição: o Poder não negocia jamais mediante chantagens, e por isso, Moro sabia que iria morrer
Atualmente a Democracia-Cristã tem vindo a adotar nova designação, como por exemplo os democratas-cristãos de Espanha que adotaram o nome de Partido Popular (PP), algo semelhante em Portugal com o CDS/PP. Observe-se, entretanto, que existiu desde 1974 um Partido da Democracia Cristã (PDC), fundado pelo Almirante Pinheiro de Azevedo, que fora impedido de concorrer às eleições constitucionais de 1975, no período revolucionário que se viveu em Portugal. Nessa época, os partidos de direita foram conotados com o fascismo salazarista e as sedes, tanto do CDS como do PDC, foram vandalizadas em várias localidades do país. Noutros países da Europa, a Internacional Democracia-Cristã, também adotou nova designação: Internacional Democracia Centrista (IDC).
Como já referimos antes, o Centro é mais um mero discurso do que propriamente dito uma posição política, visto que os partidos ou tendem para a esquerda ou para a direita, no momento de tomar decisões políticas. Aqui o termo centrista é uma alusão à equidistância ideológica inicial da DC italiana face aos partidos marxistas como o PCI e ao nazi-fascismo.
Normalmente as posições da DC são de centro-direita no que concerne às políticas económicas, e podem ser de centro-esquerda no que concerne às políticas sociais, devido a defenderem o cunho ideológico do humanismo-cristão; hoje em dia os democratas cristãos ou populares estão cada vez mais vinculados com a direita ou centro-direita de cariz neoliberal, de modo que há no fundo uma simbiose entre estas duas correntes, sendo que o que sobressai é o conservadorismo.
O Conservadorismo é portanto, uma corrente política que está a reerguer-se, sobretudo depois da queda do comunismo soviético e da transformação da economia chinesa numa economia de mercado, fazendo com que a direita seja vista com outros olhos, os olhos em volta do aparente pragmatismo, que é o que os conservadores preconizam, conservando o status quo, de forma a manter o fundamental e inovar nos aspectos que se prendem com o funcionamento dos mercados.
Nacionalismo – Esta corrente é a que defende ainda com unhas e dentes, o imperativo do Estado Nação com uma forte autoridade política, tendo ressurgido após a dissolução da antiga URSS e da Jugoslávia em 1991. Muitos movimentos separatistas têm-se fortalecido neste ideal, não se tratando meramente de direita visto que há nacionalismos de esquerda como é o caso do Nacionalismo catalão, basco, galego, corso, entre outros.
O sentimento de pertencer a uma nação é tão ou mais forte do que o sentimento religioso. O exemplo vivo disso é o resultado do ódio entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte ou Ulster, não pela religião em si, mas antes pela origem étnica, os protestantes representam os ocupantes ingleses e os católicos o povo autóctone que quer a independência dentro da República da Irlanda.  Ou seja, à primeira vista parece ser uma causa religiosa, no entanto aqui a religião recebe a influência do fenómeno político, uma vez que ser católico é uma forma de posicionamento político perante a ocupação britânica.
Ao contrário temos os indianos e os paquistaneses, que têm a mesma origem étnica e nacional do Indostão, no entanto a divisão religiosa entre hindus e muçulmanos, fez com que se dividissem em dois países, tendo sido criado o Paquistão, e assim surgindo o conflito que dura até aos dias de hoje e faz-se sentir na disputa de um território, a Província da Caxemira.
Portanto o que pesa aqui é o conceito de Nação que abordaremos na parte III no capítulo 30, e veremos que há diferentes conceitos de Nação, até porque há nações sem Estado ou nações divididas em vários Estados como o Curdistão, ou ainda Estados com mais de uma nação como a Espanha e o Reino Unido.
Neonazismo e Neofascismo – Têm tido cada vez mais visibilidade mediática, nomeadamente pelo crescimento das suas fileiras, como consequência do sentimento de insegurança pela perda da identidade cultural e unidade nacional com o aumento de imigrantes e refugiados de povos africanos e asiáticos de religião muçulmana em vários países da Europa como a Bélgica, Holanda, Reino Unido e Alemanha. Paralelamente ao ressurgimento de movimentos neonazistas de cariz racista e xenófobo, tem-se sentido o aumento de ataques antissemitas em toda a Europa.
Fundamentalismo islâmico – Corrente político-religiosa que se sobrepôs ao Pan-arabismo e ao Nacionalismo árabe, visto que estes movimentos não preconizavam uma sociedade religiosa, mas sim laica, tal como Ataturk na Turquia, ou ainda o egípcio Gamal Abdel Nasser. O fundamentalismo islâmico tem estado em voga, desde a invasão do Afeganistão pela URSS em 1979 e da guerra que se desencadeou para libertar o país, com a ajuda dos Estados Unidos da América aos guerrilheiros de diferentes forças paramilitares, denominados de os “Senhores da Guerra”, o que acabou por ajudar a instalar no poder os talibans, grupo ultrarradical do islão, de cariz antiocidental; O Regime Taliban tornou o Afeganistão no país mais atrasado do mundo, onde os meios de comunicação social foram praticamente extintos, só funcionando a radiodifusão como forma a divulgar músicas religiosas e a chamada para a oração; além disso, as mulheres tornaram-se nas maiores vitimas do regime, sendo tratadas como mero objeto, e uma vez viúvas, encontravam-se na mais avassaladora situação de vulnerabilidade social, sem qualquer tipo de apoio.
No meio deste caos, surge o líder Osama Bin Laden, da corrente religiosa dos Wahabitas, a ala mais radical do islamismo sunita da Arábia Saudita. Seu objetivo era atacar a cultura ocidental em todos os países de maioria muçulmana como foram os atentados na Etiópia, Somália, Arábia Saudita, entre outros.
As Guerras do Iraque, como consequência, despoletaram o aumento crescente do sentimento antiocidental no mundo árabe, sobretudo pela falta de habilidade política do governo de George W. Bush ao classificar os países islâmicos mais radicais como o “Eixo do Mal”, criando uma dicotomia perigosa e aumentando o sentimento antimuçulmano na Europa e nos Estados Unidos da América. O resultado foi uma onda de atentados nunca antes vista, sobretudo na Europa Ocidental, atingindo a França com pesados atentados que praticamente destruíram a imagem política do Presidente François Hollande e acabaram por dar grande popularidade a Marine Le Pen, da Frente Nacional de Extrema-direita que disputou o segundo-turno nas eleições presidenciais francesas.
 As eleições Presidenciais de 2017 em França foram Sui generis, pois pela primeira vez, os Catch All Parties, não disputaram o poder, tendo saído vitorioso o candidato independente Emmanuel Macron do movimento France En Marche, que se intitula de centro, contudo, o tempo irá provar que o centro não existe, mas esse golpe de marketing venceu o fundamentalismo nacionalista de Le Pen e da Extrema-direita.
O fundamentalismo visa, portanto, a radicalização da política, de cariz antidemocrático e teocrático, pretende impor a lei da Shária em detrimento da lei civil, tal como fez no Afeganistão. O expoente máximo do radicalismo islâmico ocorreu precisamente entre o norte do Iraque e da Síria, onde foi criado o Estado Islâmico, de forma cruel sem precedentes contra as comunidades cristãs, como as igrejas siríaca, melquita, maronita e até contra outros muçulmanos da corrente xiita ou de etnia curda.
Curiosamente a Comunidade Internacional demorou para intervir, gerando como consequência o maior surto de refugiados jamais visto, só na Jordânia, há um campo com mais de um milhão de refugiados sírios, sem falar dos que morreram nos naufrágios ocorridos no Mar Mediterrâneo.
A Guerra Civil da Síria é aliás o caso mais paradigmático da variedade política entre o passado e o presente do mundo árabe, o Partido Socialista Baath de Bashar Al-Assad, que está no poder na Síria que é o espelho do que foi a grande corrente do nacionalismo árabe, aparenta ideologicamente, que tenha sido inspirado no nacional-socialismo e do pangermanismo, a ideia do pan-arabismo e a criação do partido nos mesmos moldes do nacional-socialismo alemão, pelo que foram a base de sustentação do poderio ditatorial na Síria, Iraque e Líbia. As outras correntes são os diversos movimentos guerrilheiros fundamentalistas, como o Estado Islâmico, ou ainda a Jihad Islâmica e a Irmandade Muçulmana que pretendem impedir a democratização dos países árabes, bem como destruir a democracia ocidental.
Novas Tendências Políticas – As gerações mais novas, tanto nos EUA e na Europa, que lutaram contra o Nazismo, ou ainda no Brasil do pós-Abertura, como em Portugal no pós-25 de abril, ou ainda as novas gerações espanhola e latino americana, não chegaram a viver o tempo dos caudilhos e nem o esforço da luta pela liberdade e a democratização, épocas em que se formavam líderes carismáticos, tempos em que muitos dos que lutavam por liberdade eram presos, torturados, exilados e em muitos casos também mortos.
Essa falta de contacto das novas gerações, no que toca ao custo-benefício da liberdade, somando-se ao desgaste da democracia causado por uma dicotomia gémea entre centro-esquerda e centro-direita, cujas diferenças centram-se mais no discurso do que na prática das políticas adotadas, sendo mais liberais de uns e menos de outros, ou ainda pelo desgaste da corrupção em detrimento do bem-estar social e o acúmulo da interdependência dos países aos Blocos Económicos e às regras uniformistas da OMC, levam a que surjam como seria de prever, novas tendências políticas, que não se prendem a ideais ambíguos, pelo contrário, lutam por novos paradigmas sob a luz do pragmatismo, nomeadamente numa época marcada pela globalização da cultura e a internacionalização da economia e da informação.
Dessas novas tendências, que extrapolam o campo da política, surgem das lutas pela liberdade e os direitos fundamentais das minorias, tais como as minorias étnicas, a luta contra o racismo, ou ainda os movimentos como LGBT, movimentos cívicos em defesa dos animais, associações em defesa da liberdade religiosa, entre outros.
Recentemente surgiu na Europa uma nova geração de partidos políticos, nomeadamente em Espanha, como o Podemosdefensor de uma “Nova Esquerda” e também o Ciudadanos, de centro direita, defensor de uma corrente que se confunde com o Pragmatismo e o Pós-Modernismo político, ambos são claramente uma nova geração de partidos e movimentos alternativos e contestatários das políticas adotadas pelos partidos tradicionais da alternância do poder.
Principais tipos de ideologias
Ø  Ideologias Conservadoras
o   Visam manter o Status Quo
Ø  Ideologias Reformistas ou Progressistas
o   Promovem mudanças que visam a evolução.
Ø  Ideologias Reacionárias
o   Ultraconservadores reagem às mudanças
Ø  Ideologias Progressistas ou Alternativas
o   Visam intervir no processo decisório, podendo manter-se na oposição.



sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

XV - O Que é o Humanismo e o que Propõe?


Movimento de esquerda, comummente denominado de o Novo Humanismo, é uma filosofia que pretende promover a transformação social, pela atuação em diversas áreas, na busca de um mundo mais humanizado, solidário, sustentável
e com maior justiça social.
Mario Rodriguez Cobos, O Silo
O movimento foi criado em 1969 pelo pensador, psicólogo e escritor argentino Mário Rodriguez Cobos, também denominado de Silo ou El Negro, pela sua tez morena. Teve como momento marcante da fundação o discurso memorável de Silo intitulado “A Cura do Sofrimento”, pronunciado no sopé dos Andes, em Punta de Vacas, na Província de Mendonza, visto que o comício fora proibido em Buenos Aires pelas autoridades argentinas de então.
A ideologia do humanismo preconiza a centralidade da pessoa humana em todas as áreas de intervenção, tanto nos aspetos económico, social e político como cultural e religioso, ou por outras palavras, estas seriam as áreas que servem meramente de instrumentos a serviço do bem comum em geral e de cada Ser Humano em particular.
O humanismo luta ainda por um mundo que se reja pela equidade no que tange à justiça social, e pela igualdade no que toca ao acesso aos direitos e oportunidades, sem distinções quer de idade, sexo ou género, cor, etnia ou credo; outra das lutas que o humanismo trava é a defesa da pluralidade de cada pessoa, de cada comunidade e de cada povo, como elementos inalienáveis na construção das várias culturas humanas e nos diversos modos de crer, sentir e pensar.
O movimento humanista está organizado em cinco diferentes estruturas, cada uma com uma finalidade e modo de atuação próprio, embora os fins sejam os mesmos que acima referimos em relação à filosofia e objetivos, neste sentido existem os seguintes organismos:


  • CDH – Comunidade para o Desenvolvimento Humano, visa a melhoria da sociedade, através da transformação de cada pessoa pela cidadania ativa.
  • CDC – Convergência de Culturas, promove o intercâmbio entre diferentes culturas e povos;
  • PH – Partido Humanista, organismo que visa a intervenção política para a transformação social;
  • MSGV – Mundo Sem Guerras e Sem Violência, organismo do movimento pacifista, contra o armamentismo.
  • CMEH – Centro Mundial de Estudos Humanistas, instituto do movimento que realiza estudos com a finalidade de obter a sustentação teórico-filosófica dos ideais humanistas.
Autor: Filipe de Freitas Leal

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Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Humanismo - Servir para a Felicidade

Nada é um fim em si mesmo. É por isso que não me identifico como socialista, comunista e claro, muito menos como um defensor do ideal neo-liberal, visto que o que eu deveras defendo é a bandeira do Humanismo.

Ou seja, é na Justiça Social que deve estar assente o foco de toda a ação politica, económica, social, cultural, cientifica, artística e também religiosa, devem estar obviamente voltadas para a Pessoa Humana.

Neste sentido, tudo tem que girar em torno do conceito de Servir, e servir é focar no próximo a razão de ser da nossa ação, não se produz um produto só para obter o retorno do lucro, mas o que se produz, tem de ser Útil às pessoas primeiro e à comunidade por extensão.

Isto está muito ligado ao conceito de felicidade, as coisas também tem filosoficamente o seu sentido de felicidade, se alguém escreve e produz um livro, é para que se transmita algum conhecimento ou diversão, caso contrário, nem o seu autor, nem o seu leitor, terão atingido a meta a que o objetivo do produto final se destinava no âmbito da felicidade.

No entanto, hoje vivemos numa inversão desses valores, as pessoas estão a ser usadas para manter vivo o consumo e o lucro, e assim é destruído o âmbito do SERVIÇO e da Felicidade, isto acaba por contaminar todo o tecido social, nem sempre foi assim, as sociedades modernas desenvolveram a tecnologia e os níveis de conforto, mas em contrapartida escravizam as pessoas.

A Infelicidade, o suicídio, o divórcio, a adição, o crime, entre outros tipos de anomia social, são frutos da falta de HUMANISMO, ou por outras palavras, da falta de sentido de SERVIR e produzir FELICIDADE para o outro, e por consequência para a comunidade.

Por outras palavras não é em função da sociedade que existe a pessoa humana, nem do lucro,  indevidamente deificados, numa sociedade e cultura pretensamente laica, mas antes, é para a pessoa humana que cada um destes elementos deverão estar voltados gerando o Bem-estar Humano, numa comunidade de pessoas acima de toda a cor, etnia, credo, classe social, género ou idade.

Autor Filipe de Freitas Leal




Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

A Visão Humanista - O Blog do PH

A Visão Humanista, é o blog oficial do Partido Humanista - Português PH, onde podemos obter a mais variada e pertinente informação sobre o ideal humanista, no que se refere à corrente ligada ao Movimento Humanista fundada por Silo (Mário Rodrigues Cobosna América do Sul, uma corrente denominada por Novo Humanismo em que se reúnem os esforços de muitas pessoas de vários continentes, nações, raças e credos, na busca de uma nova sociedade, no blog obtemos informação sobre a sua proposta de não violência, da solidariedade com os oprimidos e da necessidade de ainda que poucos, sermos todos necessários para criar uma nova sociedade mais justa e sem violência.
O Blog é excelente, identifico-me imenso com o ideal do Partido Humanista, os seus valores e princípios e as soluções que preconiza para a sustentabilidade do planeta e da sociedade e da humanidade como um todo.
Vale a pena visitar este blog, bem como os sites relacionados ao Humanismo, na lista de links que se segue:
·        A Vida e a Obra de Silo  (Rodrigues Cobos) ver Aqui.
·        Partido Humanista - Português PH, ver Aqui.
·        Movimento Humanista, ver Aqui.

Autor Filipe de Freitas Leal


Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

O que é o Movimento Humanista?

Os humanistas são pessoas de todas as raças, credos, independentemente de género, que tendo diferentes experiências de vida, diferentes culturas e visões de mundo, formam um conjunto intergeracional de mulheres e homens que lutam e acreditam num mundo melhor, por outras palavras são jovens, adultos e idosos ativos deste século, que atuam neste tempo, com vista a um futuro promissor para toda a humanidade. Os humanista revêem-se em cada pessoa, colocando-se no seu lugar, sobretudo os mais necessitados e os mais desfavorecidos pelo que não chamamos à humanidade o que comummente se designa como o "Homem", para nós não há o Homem e sim de forma mais plena e mais abrangente "o Ser Humano", formado por homens e mulheres deste século e de todo o Mundo, em igualdade de género e de gerações.

Se anteriormente o humanismo, foi uma corrente ligada ao ressurgimento das artes, das ciências e da reorganização da sociedade em moldes contrários à Teocracia, é também verdade que o foi no intuito da reposição da centralidade do Ser Humano nas questões políticas, sociais e económicas, e colocando a religião no seu devido lugar, de serviço, consciencialização e fortalecimento filosófico, moral, ético e teológico, que aliás sempre foi o seu lugar, e reconhecem nisso os antecedentes do Humanismo histórico e as bases do novo humanismo, que se quer voltado para a urgência dos problemas atuais e a eminência das dificuldades que a Humanidade enfrentará no curto espaço que nos espera.

Os humanistas são um movimento, que defende a democracia participativa, a liberdade, na são internacionalistas, e pessoas presentes, de todas as profissões, atuando assim na sua região, localidade e bairro, contactando e participando de forma ativa pela defesa dos interesses das populações, sempre em prol de uma comunidade humana universal.

Mas a luta e a aspiração dos humanista é feita de forma plural, cada um com a riqueza da sua cultura, língua, religião, costumes, tradições, bem como dos diferentes graus de ensino e formação técnica e o respetivo exercício profissional, contribuem para um mundo plural, rico e que no respeito e na integração de todos será um mundo melhor.

É preciso que todos se consciencializem do direito e do dever de exercerem da melhor maneira possível, os direitos humanos, e a liberdade de pensamento, expressão e de associação política ou religiosa.

Resta-me dizer parafraseando um grande filósofo, Humanistas de todo o Mundo Uni-vos.

Autor Filipe de Freitas Leal

Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

Documento do Partido Humanista Face à Crise

DOCUMENTO DO PHI FACE À CRISE MUNDIAL
Quando os humanistas observam e participam nos processos sociais, políticos e económicos em todo o mundo, não podem deixar de refletir sobre a vigência que tem neste momento histórico o Documento do Movimento Humanista, escrito por Silo em 19931. Da sua leitura pode compreender-se até que ponto o rumo da história foi confirmando as tendências aí explicadas e até que ponto hoje – mais do que nunca – se torna necessária a união de todos os humanistas do mundo, para que as mais profundas aspirações humanas se possam converter em realidade.
Como partido político inspirado nesta corrente do Humanismo Universalista, acreditamos que neste momento histórico é necessário analisar a situação atual, para assim chegar a propostas de ação no presente contexto mundial.

A ANÁLISE CONJUNTURAL
A irrupção das novas gerações
Nos últimos tempos, por todo o mundo irromperam diferentes movimentos sociais que surpreenderam os analistas e formadores de opinião que anunciavam o fim da história. As expressões sociais em países tão diferentes como a Tunísia, o Egito, a Islândia, a Espanha e o Chile, diversas nas suas causas e reivindicações, têm em comum o facto das novas gerações terem sido os protagonistas. Milhares de jovens começaram a ocupar as ruas mostrando a sua indignação pelo mundo injusto que herdaram, assumindo o desafio de protagonizar a mudança social e adotando a Não-violência Ativa como metodologia de ação.
A expressão destes jovens, em conjunto com o que têm de melhor as gerações passadas, começa a germinar o nascimento de uma nova sensibilidade planetária. É uma nova sensibilidade que não dá importância aos líderes acostumados a manipular tudo; que não só fala de horizontalidade como a exerce quotidianamente nas suas distintas formas de organização autogestionária. Uma nova sensibilidade que não só tolera a diversidade como a aceita e estimula, pois sabe que essa diversidade é necessária quando se deseja produzir verdadeiras mudanças; que reconhece a banca e o capital especulativo como os verdadeiros adversários que sequestraram a democracia representativa, evidenciando a necessidade de avançar para uma Democracia Direta.
Uma nova sensibilidade que já não entrega a sua subjetividade aos meios de comunicação oficiais manipulados pelo Capital Financeiro, mas que utiliza e se apropria das novas tecnologias e redes sociais para se comunicar, informar, denunciar, organizar e ocupar a rua.

Além disso, e talvez mais importante, esta nova sensibilidade intui que na base da injustiça social se encontra a violência física, económica, racial e religiosa. E, portanto, a sua resposta à repressão e à difamação é distanciar-se dessa atitude, é a não confrontação e a desobediência civil, em suma a Não-violência Ativa.
Esta nova sensibilidade é apenas um sinal do novo mundo que está a nascer no meio de um velho mundo que – com grande violência e repressão – tenta permanecer.
Em direção à Nação Humana Universal.

Nos últimos 20 anos tem-se vindo a acelerar a comunicação e a interconexão mundial, tendo-se definido certos aspetos desse fenómeno como «globalização». Mas os humanistas, que são internacionalistas e aspiram a um mundo múltiplo e diverso, vêm na tal «globalização» os sinais do anti-humanismo, porque o poder económico mundial quis manipular esse processo de acordo com os seus interesses, criando um Paraestado, tanto a nível dos estados nacionais como a nível mundial. Esse paraestado opera dentro dos limites dos países comprando ou chantageando os governos e manipulando a opinião pública mediante o controlo dos meios de comunicação de massas. Em simultâneo, opera também internacionalmente: mantendo ao seu serviço organismos económicos como o FMI, o Banco Mundial e a OMC; criando tribunais internacionais à sua medida como é o caso do CIADI; utilizando os exércitos dos EUA e da NATO como polícias do mundo; encobrindo todas as suas maldades sob um manto de legalidade mediante o controlo das decisões das Nações Unidas; e manipulando a opinião pública através da imprensa internacional.

Assim sendo, as populações do mundo não só têm que enfrentar os problemas que existem dentro das suas fronteiras, mas também, além disso, sentem que muitos dos seus problemas são gerados globalmente e que não têm modo de agir para os resolver. Os humanistas dizem que, tal como os povos devem tomar o poder dentro das suas fronteiras através de uma Verdadeira Democracia para que tenham governantes que os representem genuinamente, também a nível mundial é preciso trabalhar para desarticular esse Paraestado que se disfarça de institucionalidade mediante organismos que são meros testas-de-ferro do poder económico global.

Por isso, a imagem de avançar em direção a uma Nação Humana Universal não deveria ser somente a luminosa utopia que orienta as lutas dos povos, mas também uma concepção estratégica a partir da qual surjam as ações táticas tendentes a desmontar o poder desse Paraestado Global, enquanto se vão construindo simultaneamente os pilares de uma verdadeira Nação Humana Universal. Porque essa Nação Humana Universal, que para as velhas gerações pode aparecer como uma mera expressão de desejos, para as novas gerações já aparece como um horizonte visível a partir de uma nova sensibilidade.
Está claro que, entre a situação atual e o horizonte visualizado, haverá que percorrer um caminho de ações, algumas das quais iremos propor neste documento. A mudança de paradigmas económicos num mundo em que o dinheiro se tornou o valor central da existência, não nos deveria surpreender as consequências de semelhante negação do sentido da vida humana. Não nos pode surpreender a crescente iniquidade na distribuição da riqueza, tendo em conta que a concorrência individualista implica necessariamente que haja ganhadores e perdedores. Não nos podem surpreender as sucessivas crises financeiras e correspondente recessão num sistema que apenas se pode sustentar graças ao endividamento crescente. Não nos podem surpreender as guerras pelos recursos naturais escassos num mundo depredado pelo consumismo dos mais privilegiados. Não nos pode surpreender a violência social, havendo cada vez mais pessoas que se sentem marginalizadas e fracassadas quando se comparam com o mundo paradisíaco oferecido pela publicidade consumista. E não nos pode surpreender o niilismo, a loucura e o suicídio, quando se perdeu o sentido da existência ao querer trocá-lo pelo afã do êxito materialista.

É evidente que existem procedimentos para transformar este sistema económico desumano melhorando a distribuição do rendimento, disciplinando o sistema financeiro, avançando em direção a um desenvolvimento sustentável que permita uma vida digna a cada ser humano sem devastar o planeta. Mas seria ingénuo pretender uma execução espontânea de tais procedimentos sem antes estimular uma mudança genuína de paradigmas na concepção da economia e que se fundamentem numa profunda mudança de valores culturais.

Há quem acredite que, apenas por as crises económicas afetarem muita gente, haverá na maioria das pessoas a convicção de mudar o sistema económico. Mas isso não será assim porque o individualismo está muito enraizado e o facto de, perante uma crise generalizada, muitas individualidades convergirem num protesto, não significa que se tenha transcendido o individualismo. Por isso, não é tão simples passar a outras instâncias organizativas que realmente sejam capazes de substituir o sistema.
De modo que a proposta de uma transformação do sistema económico não pode ser pensada apenas em termos de exequibilidade técnica nem em termos de conveniências maioritárias. Deve ser pensada a partir de uma mística social que tenha como bandeira a ética da coerência, que no campo económico significa dar prioridade à resolução das necessidades básicas de todos os habitantes do mundo, antes de qualquer outro interesse setorial ou individual.

Sabemos que hoje se está em condições de resolver as necessidades básicas de todo o mundo. Há exemplos de sobra do que se poderia fazer com os recursos que hoje se destinam ao armamento, à especulação financeira, à produção de bens luxuosos ou ao consumismo irracional.

Bastaria mudar a direção das forças que já existem na economia para, num prazo não muito longo, reconverter e multiplicar o aparelho produtivo, com menos armas e mais alimentos, menos recursos para a especulação e mais para a produção. Mas a direção das forças da economia não mudará apenas por pedir a quem ocupa o cume da pirâmide que a desmonte; mudará quando uma boa parte daqueles que ainda atuam como tijolos dessa pirâmide começar a retirar-lhe sustentação e isso conseguir-se-á quando se deixe de acreditar na pirâmide. Isso implica que haja novos valores, novos paradigmas e uma mística social que os enraíze no coração dos seres humanos.
Efetivamente, o grau de perversão crescente na relação entre o capital e o trabalho é possível graças ao individualismo reinante na população, que impede as respostas conjuntas e deixa a grande maioria desarmada face à minoria economicamente poderosa. Porém, o absurdo é tão grande que está a impelir camadas cada vez maiores da população a uma tomada de consciência. O Partido Humanista deverá trabalhar em todo o mundo organizando e dando elementos de análise à maior quantidade possível de pessoas. A nossa resposta, a não-violência ativa, indica-nos um primeiro passo de denúncia ao qual deverá seguir-se a não colaboração com os violentos. Do mesmo modo como, a seu tempo, deveremos promover a não colaboração com os Estados violentos, também deveremos propugnar a não colaboração com um capital que maltrata as populações. A certa altura, os trabalhadores (e consumidores) deverão assumir projetos de desenvolvimento social construídos sem intervenção de sócios capitalistas (ou com aqueles que admitirem uma relação justa e recíproca). Haverá um momento em que a população deixará de reclamar a satisfação das suas necessidades ao capital e decidirá resolvê-las como conjunto: «não queremos os vossos créditos, nem os vossos postos de trabalho, nem os vossos produtos, nem os vossos serviços». Isso só será possível quando a reciprocidade começar a ocupar o lugar do individualismo.
Em direção a uma Democracia Real.

Os humanistas rejeitam os totalitarismos e as ditaduras de qualquer tipo, porque pensam que a liberdade do ser humano de decidir o seu destino sem amos, tutores ou chefes é um direito inalienável em qualquer circunstância. Mas também denunciam a hipocrisia das democracias formais, nas quais os poderosos da corporação económico-político-mediática utilizam a sua capacidade de manipulação para deixar as populações perante falsas opções eleitorais, tendo que escolher entre o “menos mau” dos seus verdugos ou o suposto caos da instabilidade institucional.
É claro que atualmente no mundo nem todos os governos eleitos livremente são iguais: há os mais progressistas e os mais conservadores. Porém, seja por cumplicidade, seja pelas limitações impostas pelo poder económico, não quiseram ou não conseguiram reverter a direção do processo. Porque uma coisa é ter a boa intenção de “compensar” os mais desfavorecidos por este sistema (apesar de a marginalização aumentar de igual forma) e outra coisa é transformar a própria estrutura do sistema para que não seja uma maquinaria de marginalizar pessoas. E desde o fracasso do socialismo real não houve novas alternativas ao sistema atual.

Em qualquer caso, a possibilidade das populações intervirem nas políticas públicas apenas se limita à eleição dos seus supostos representantes nos períodos eleitorais. De modo que se pretendemos que haja transformações substanciais no mundo, devemos conseguir que os cidadãos tenham maior participação nas decisões públicas que mais os afetam, e não estar à mercê dos arbítrios dos interesses dos mercados ou dos funcionários.

Concretamente, tudo isto significa, entre outras coisas, consultas populares vinculativas para decisões de certa relevância, significa orçamentos participativos, significa a eleição direta de todos os funcionários e a possibilidade de os destituir dos cargos em qualquer momento.

Mas é evidente que, assim como não podemos pretender que aqueles que estão na cúspide da pirâmide económica mudem as regras do jogo por si mesmos, também não podemos esperar que aqueles que se enquistaram no poder político graças à democracia formal, legislem para dar maior participação às pessoas em decisões centrais. De modo que será necessário promover a prática da Democracia Real já desde o seio da sociedade, apoiando com o voto apenas aqueles que se comprometeram com a implementação das transformações democráticas necessárias. E se não houver candidatos que se comprometam ou aqueles que o fazem não merecerem a nossa confiança, então teremos que penetrar o sistema político com candidatos próprios do povo, ao mesmo tempo que organizamos a não-colaboração e a desobediência civil quando um número suficiente de pessoas organizadas tomar consciência de que este sistema não tem emenda. Mas não há outra saída para este embuste da democracia formal, pelo menos no caminho que os humanistas propõem, que é o da luta não-violenta.

AS PROPOSTAS
Estas propostas, além de serem necessariamente aperfeiçoáveis na sua amplitude e profundidade, e além de representarem apenas alguns exemplos do que se poderia fazer, podem também ser recebidas de maneiras diferentes por aqueles que concordarem com elas, de acordo com a sua possibilidade de atuação. Para alguns, poderão significar ideais a alcançar e funcionar como referências no momento de escolher os seus governantes. Para outros, poderão significar imagens mobilizadoras, a partir das quais se podem organizar para exigir aos governos que trabalhem para as concretizar. Outros considerarão melhor a opção de participar politicamente e incluir tais propostas na sua plataforma eleitoral. E aqueles que hoje tenham algum espaço de poder político e económico e aspirem genuinamente a um mundo melhor, talvez possam tentar aplicar já alguma delas.

Propostas para os governos, para avançar na direção de uma confederação de estados nacionais com aqueles que se tenham comprometido com as mesmas.
1. Estabelecer constitucionalmente a obrigação do Estado de garantir de forma concreta a cobertura das necessidades básicas da população, com políticas contributivas concordantes com tal prioridade. Estabelecer, a partir da cobertura de tais necessidades, uma percentagem para destinar à ajuda de nações mais desfavorecidas.
2. Desmantelamento total dos arsenais nucleares. Redução progressiva do armamento convencional dos estados. Renúncia à guerra como metodologia para resolver conflitos.
3. Controlo estatal do sistema financeiro. Criação de bancos nacionais e regionais sem juros, com administração mista e participação de utentes e trabalhadores. Regulamentação que castigue as práticas especulativas e usurárias. Acordos internacionais para assegurar o reinvestimento produtivo dos lucros das empresas, o desaparecimento dos paraísos fiscais e qualquer manobra evasiva ou especulativa por parte do capital privado.

4. Liberdade de circulação e igualdade de direitos para todos os habitantes do planeta, em todos os países. Liberdade e igualdade de direitos para todas as culturas e religiões, garantindo o respeito pela diversidade.

5. Implementação de mecanismos de Democracia Real: consultas vinculativas, eleição direta dos três poderes do estado, descentralização, representação de minorias, revogação de mandatos, responsabilidade política e orçamentos participativos, em todos os níveis do Estado. Utilização dos meios de comunicação de massas para a capacitação e o debate sobre os temas a decidir, garantindo a pluralidade de opiniões em igualdade de condições. Consultas internacionais a todos os habitantes envolvidos em políticas regionais ou mundiais.

Propostas para a mobilização social, para pressionar os governos e construir alternativas ao poder constituído.

1. Exigir a implementação de uma consulta popular sobre cada decisão relevante que os governantes devam tomar nos campos económico, político ou social, denunciando as medidas não consultadas como anti-democráticas.

2. Promover o intercâmbio, o debate, a capacitação e a circulação da informação para que toda a sociedade possa formar opinião sobre os temas que devem ser objeto de consultas populares. Utilizar para isso os fóruns presenciais e as redes, exigindo aos meios de comunicação que cedam espaço para tais fins e denunciando aqueles que não o fizerem como cúmplices da democracia formal.

3. Elaborar anteprojetos de lei para exigir o seu tratamento e impulsioná-los a partir da construção político-social alternativa. Lei de Democracia Real (com a incorporação de todos os mecanismos da mesma). Reforma fiscal que garanta a redistribuição da riqueza e o reinvestimento produtivo dos lucros. Lei de Propriedade Participativa dos Trabalhadores nas empresas. Controlo estatal do sistema financeiro e criação da Banca sem Juros.

4. Mobilização permanente pelos direitos fundamentais, como é o caso da Educação e
Saúde públicas, gratuitas, universais e de grande qualidade, exigindo não apenas a sua existência, mas também as dotações orçamentais de acordo com a sua importância.
5. Impulsionar e difundir por todos os meios possíveis os paradigmas de uma nova cultura para a Nação Humana Universal: a não-violência, a não-discriminação, a reciprocidade, a liberdade, a justiça social e o sentido da vida. Simultaneamente, denunciar comoretrógrados os valores do individualismo, do consumismo, da violência, da xenofobia e da guerra.

Extraído de http://visaohumanista.blogspot.com/ Blog do Partido Humanista PH

Autor Filipe de Freitas Leal


Sobre o Autor

Filipe de Freitas Leal nasceu em Lisboa, em 1964, estudou Serviço Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Estagiou como Técnico de Intervenção Social numa Instituição vocacionada à reinserção social de ex-reclusos e apoio a famílias em vulnerabilidade social, é blogger desde 2007, de cariz humanista, também dedica-se a outros blogs de temas diversos.

 
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